Texto nonsense do filme "O Iluminado" |
Outra alegação determina que o conto possua um final bem determinado e a crônica um desfecho capaz de ser ampliado pelo próprio leitor. Resumindo: os contos são metódicos, as crônicas preguiçosas. Concluí que o contista não pode criar mais nada de interessante após o último ponto. Também não é uma boa ideia o cronista morrer no final.
Após três dias de investigação, não havia chegado a nenhuma definição concreta. Eu me sentia um típico aluno platônico (só sei que nada sei) seguindo em direção à escola. No caminho encontrei com Robert, um colega de períodos anteriores. Ele era o clássico canalha que respondia a qualquer pergunta sem possuir o mínimo conhecimento. Resolvi me arriscar:
— Robert, você sabe a diferença entre crônica e conto?
— O quê?
Ele sempre fingia não escutar uma pergunta. Era um artifício adotado para ganhar tempo e fornecer uma resposta satisfatória aparentando nenhum esforço. Repeti a questão e Robert esclareceu com naturalidade:
— Claro. Na crônica o escritor conversa com o leitor dizendo coisas sérias com humor e falando bobagens seriamente. Parece que você está em um bar e um amigo pseudo-intelectual bêbado começa a filosofar sobre coisas aleatórias. O conto é uma história que possui um problema que costuma ser solucionado no final. Pelo menos alguém tenta resolvê-lo e não fica apenas falando sobre ele.
— Mas existem crônicas com história e enredo.
— Sim. Mas eu diria que são neo-crônicas. A crônica clássica é um bando de conversa fiada.
Apesar de ser um inútil, Robert me proporcionou uma grande revelação. Aquela delimitação de neoclássico era a resposta para a minha questão. Nenhum estilo é eterno. As inovações vão se aderindo às definições e um estilo sobrepõe o outro, tornando-se cada vez mais difícil uma separação ou uma classificação exata. No fim das contas, o meu professor era um grande cretino por ter feito aquela pergunta.
Fiquei tão empolgado com a epifania que atravessei a rua sem nenhum cuidado. Fui atropelado por um carro e rolei pela rua. Abri os olhos e vislumbrei Robert ajoelhado ao meu lado com um celular nas mãos. Pisquei e estava imobilizado dentro de uma ambulância. Pisquei outra vez e me encontrava entubado sobre uma cama branca. Depois de alguns dias, não suportei e o pior aconteceu.
Eu morri...
E adentrei os portões do céu.
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